Quando a Mulher Instintiva Grita
Desde cedo fomos condicionadas a conter o fogo, a transformar a dor em aceitação, a sorrir quando queríamos gritar. Dizem que a mulher é o alicerce da paz, mas esquecem que, antes de ser paz, ela é tempestade. Esquecem que dentro de nós habita Kali, a destruidora de ilusões, a deusa que dança sobre o caos para abrir caminho para o novo.
Kawane Cândia
2/18/20251 min read


Não me peça calma. Não me peça paciência. Eu tenho direito de estar com raiva. E se a minha raiva te incomoda, talvez seja porque ela escancara verdades que você não quer ver.
Desde cedo fomos condicionadas a conter o fogo, a transformar a dor em aceitação, a sorrir quando queríamos gritar. Dizem que a mulher é o alicerce da paz, mas esquecem que, antes de ser paz, ela é tempestade. Esquecem que dentro de nós habita Kali, a destruidora de ilusões, a deusa que dança sobre o caos para abrir caminho para o novo.
O feminicídio constante, a desigualdade que nos sufoca, os preços que só sobem, as contas que chegam como lâminas afiadas, o trabalho que nunca acontece, as cobranças que esmagam o psicológico, o emocional e o físico—tudo isso não é acaso, não é natural. É um sistema que nos quer exaustas, submissas, caladas. Mas eu me recuso.
A mulher instintiva dentro de mim não aceita silenciar a própria fúria. Porque a fúria da mulher não é irracional, não é histeria—é resposta. É o grito ancestral de quem por séculos foi queimada, silenciada, violentada. E toda mulher que desperta para sua própria potência sente esse chamado: a necessidade de rasgar o véu, de encarar o predador de frente, de não pedir desculpas por existir.
Sim, eu transcendo. Sim, eu posso transformar dor em poder. Mas também posso urrar, espernear, dizer não. Também posso não ser luz, posso ser sombra, posso ser a profana que rasga as amarras. Porque o feminino não é só acolhimento, ele também é destruição.
E você? Vai ignorar a minha ira ou finalmente vai ouvi-la?
